11 de set. de 2009

O ultimo sorriso

Olhou longamente para a faca. A mesma lamina que cortava o pão também cortava a carne, também tirava o sangue. O corte era igual, a faca era igual, não importava que meu segurava seu cabo, no final, o serviço seria feito. Segurou-a com ternura, quase com afeto e pensou em quantas vezes já não passara por ela, em quantas vezes tinha feito questão de se mostrar forte, de se mostrar vivo. Um breve sorriso cruzou-lhe os lábios pouco antes do frio metal abrir-lhe a carne. Sentiu-se fraquejar, sentiu medo, sentiu o sangue rubro escorrendo na pele. Soltou enfim a faca e deixou-se cair ao lado dela.

A queda não doeu. Tudo parecia-lhe agora em câmera lenta. Pensou se seria realmente verdade que antes do fim sua vida passaria pelos seus olhos. Se assim fosse veria ainda muitos cortes, menores, escondidos, simbolizando cada perda, cada dor. Fechou os olhos com força para não ver. Sacudiu a cabeça e abriu-os novamente, nunca havia gostado do escuro e morrer com eles fechados não parecia-lhe um bom agouro. Riu. De que adiantaria um bom agouro agora?

Seu corpo era coberto de marcas, cicatrizes, feridas antigas e tinha orgulho disso. Todos os cortes tinham sido feitos por ele, todas as marcas, todas as dores. Era um tolo, bem o sabia, mas um tolo orgulhoso. “Tenha fé, amor, esperança” cada mentira que lhe contavam, cada mentira que ele queria acreditar, cada uma delas se transformava numa faca, cada faca num corte, e esse, era apenas mais um, e ao mesmo tempo, o ultimo. Sem arrependimentos sorriu enquanto via o chão branco se tornar vermelho sangue e por fim se entregou a paz da morte.


nada que um cd do los hermanos não resolva ^^