25 de out. de 2016

Talvez

Hoje eu não quero usar mascaras, nem falar em códigos - ou indiretas - nem me esconder de nenhuma forma. Na verdade, eu nem queria estar aqui. Não queria estar nesse blog. Não queria rever esses sentimentos. E definitivamente não queria rever você. Mas também queria te ver sim, e muito.
Eu sei que parece confuso, e é bem confuso mesmo, mas eu desisti de fazer sentido de mim mesmo a um certo tempo já, e isso as vezes me faz bem. Faz eu pensar que posso fugir de muita coisa. Que é normal viver assim, em sentido oposto e posto ao mesmo tempo. Faz, como agora, eu fugir do tema pro texto parecer mais pessoal, mais meu, e me faz pensar que eu posso ter algum controle sobre isso tudo. O que é uma grande mentira.
Esse texto, como tantos outros, jamais poderia ser meu. Esse texto é seu. E eu nos odeio por isso. Me odeio por tantos anos depois ainda não conseguir te esquecer e te odeio por tudo o que você fez, especialmente as coisas boas. As coisas que deixam tão difícil a tarefa de te esquecer.
Esse texto é seu, assim como também foi a minha manhã e a minha noite. É, eu sonhei com você. Sonhei com as coisas antigas. Com a risada da tua mãe. Com o teu cheiro voltando pra casa. Com um reencontro onírico que, acordado, eu teria disfarçado e fugido no momento que ele começasse. Sonhei com o abraço apertado que eu quis te dar quando voltei de viagem e com tudo o que teria sido depois disso.
E como de costume, ao acordar, muitas outras coincidências - ou nem tanto - me levaram a você. Musicas, memorias, lembretes do passado vindos da internet. Um mundo todo de sentimentos que não existe mais. Um mundo que eu preciso que não exista mais porque, se houver ao menos uma possibilidade dele existir, os últimos anos da minha vida foram o maior erro e desperdício que se pode conceber. Um universo inteiro de coisas que eu realmente queria que fossem verdade mas que eu me esforço para que não sejam. Que eu preciso, dentro da minha pequeneza, que não sejam.
E talvez a pior parte seja exatamente essa: a parte em que luto sozinho contra tudo isso porque, realmente, tudo isso só existe, ou só faz diferença, dentro da minha cabeça. E isso seria extremamente bobo de minha parte certo? Ficar lembrando algo que não existe mais e temendo que exista enquanto claramente, você praticou o tal desapego. E não, isso não é uma critica. Aposto que esse desapego deve ser muito bom e espero (embora, já que estamos sendo honestos e diretos, não com uma "esperança absoluta") que você tenha mesmo desapegado e que  não tenha manhãs como essa que estou tendo hoje. Gostaria de saber se isso é verdade. Se eu te perguntasse, você seria honesta? E se você fosse, será que eu poderia lidar com isso? Faria alguma diferença?
Talvez fizesse.
Talvez fizesse toda a diferença do mundo. Ou nenhuma.
Mas não fará. Não fará porque eu não vou te perguntar essas coisas. Não fará porque você não irá ler esse texto. Nem saber de minhas angustias. Você talvez faça como eu e as vezes observe de longe a minha vida. Talvez curta uma foto, ou um comentário. Talvez pense que eu estou feliz com a minha vida - o que não seria uma mentira - e talvez nada disso e sequer se lembre de mim. E talvez seja melhor assim. Um "talvez" que guarde a verdade, seja ela dura ou doce. Um "talvez" que não mate a esperança que não devia existir. Um "talvez" que me permita, ainda que apenas com os olhos bem fechados, sonhar com uma outra vida onde o que hoje é bom pudesse "talvez" ser incrível.
E P.S. Mesmo não sendo mais necessário ou desejado, eu te amo.

10 de abr. de 2014

Mih.


Mih – ele pensou. – Ele sempre soubera o seu nome, ainda que muitas vezes a escrevesse por metáforas mais rebuscadas. Mih. Aquele trecho de nome. Uma interjeição capaz de despertas tantos sentimentos. Pedaço carinhosamente retirado de Camila. Pedaço claro, porque Camila era um universo. Um sem numero de contradições e poesia. Uma complexidade indescritível para as melhores palavras. Ele sabia que Camila era demais. Grande demais, séria demais. Mih. Um pequeno fonema. Algo que seus parcos vocábulos tivessem mais chance de descrever. Mih. Ele preferia assim. Talvez ela também.

Ele fechou os olhos e a visualizou mais uma vez. Uma criatura pequena, de cabelos negros e pele alva. Imaginou as lentes, as roupas, o all star que, quem sabe ela gostasse de usar. Sua mente chegou mais perto. Lembrou de um cheiro perdido no tempo. De palavras que ela poderia dizer. Do som de uma voz. Pensou se ela seria real. Pensou se ela ainda seria real. E por fim, pensou se algum dia ela foi real.

E quanto mais pensava nela, mais difícil era se concentrar em sua imagem. Havia algo de diferente nela. Algo que conferia a ela uma particularidade única, acima do que ele podia imaginar. Ela era mais viva que seus conceitos. Mais viva que suas idéias. E, por ser mais do que era capaz de imaginar, logo, até mesmo as imagens que construíra dela escapavam de seus olhos e não havia nada que ele pudesse fazer.

Ele pensou em procura-la. Em tê-la. Em escrevê-la. Como se o fato de colocar aquela existência em palavras, como se descreve-la fosse, de alguma forma, prende-la aquelas palavras. Mas era inútil. Ela tinha suas próprias palavras. Sua própria vontade. Ela fugiria dele. Sempre fugia. As vezes ficava meses sem o procurar. As vezes era sua própria respiração. As vezes o fazia brigar consigo mesmo.

Ainda assim, saber disso não mudava nada. Ele achou, em uma das muitas vezes que pensara sobre o assunto, que em outra vida eles seriam como planetas a dançar envoltos em suas orbitas, entrelaçados na vastidão do espaço, condenados a nunca colidir. Era triste, mas de alguma forma gostava daquela metáfora. Gostava também da idéia de um dia colidirem de fato. Pensou na poesia de tudo aquilo. Sabia que ela gostava de poesia. Talvez escrevesse aquilo para ela um dia. Talvez numa tarde preguiçosa. Talvez declamasse em um jantar romântico. Talvez mostrasse o guardanapo rabiscado, prova do primeiro esboço, guardado com carinho entre as paginas de um livro sobre solidão e lhe dissesse o quanto aquele pequeno e frágil pedaço de papel tinha sido importante para ele tantos anos atrás.

E enquanto pensava em todas as coisas que queria fazer se ela ficasse, mais uma vez, ela decidiu fugir. Partir dançando com as folhas de um vendaval. Ter aquela existência leve que ela tanto clamava gostar. Partir. Ir. Como em um sonho, ambos sabiam que eventualmente o desfecho se apresentaria em forma de adeus. Mas ambos também sabiam que ele não poderia simplesmente deixa-la ir. Ou pelo menos ele sabia. Sabia que ainda não aprendera a ama-la livre. Sabia que era um erro tentar segura-la, mas sentia, e isso talvez fosse a pior coisa, que não poderia não lutar.

E então, como tantas outras vezes no passado, ele se sentou em frente à maquina de escrever e a alimentou com uma folha de papel. O sentimento era familiar. Os sons ecoavam em sua mente como os antigos risos da infância. Uma breve censura passou em seus pensamentos... Ele tinha prometido a si mesmo não mais fazer esse tipo de coisa. Ainda assim ele estava ali, na frente da máquina, inexorável, como o movimento da vida que segue independente das condições daquele que vive. Talvez precisasse escrever, como precisava respirar. Talvez só fosse cabeça dura demais para parar. Ou só precisasse dela. Mas ela fugiria. Fugiria com toda a vida, todas as palavras, toda a coleção de defeitos que se encaixavam tão bem. Ela fugiria com aquela adorável cegueira que a impedia de ver tudo que existia de bom, em si, nele, num –possível? – ficar.

Mih, ele escreveu enquanto ela partia. Mih... E pensou que talvez devesse terminar a frase ali mesmo. Com reticencias. Talvez...

19 de jan. de 2014

Nossa Caloi 10 Branca.

Faz tempo. Deuses, como faz tempo... E ao pensar isso ele se perdeu em lembranças felizes. Ele pensou na sua Caloi 10 branca com rodinhas pretas dos dois lados. Ela era a coisa mais linda que ele já vira na vida e tudo o que lhe custara foi uma promessa de nunca mais chupar chupeta. E se lembrou de seu pai. Se lembrou de como era fácil viver com ele naquela época. Se lembrou de parques e estacionamentos. Do vento batendo no seu rosto e lhe dando aquela sensação de que ele podia tudo. De que ele era legal, destemido, invencível. De como com aquela bicicleta nem mesmo os carros, nem os aviões, poderiam lhe alcançar. Se lembrou de como cada curva parecia mais radical que a anterior. E de como era feliz. Ele, a Caloi 10 branca e seu pai.

A minha direita tem um homem com alguns dentes quebrados.

Ele não queria que nada mudasse. Jura que não. Mas então algum menino apareceu com outra bicicleta. Com uma rodinha só. E ele parecia tão... “mais legal”. E mesmo feliz ele quis aquilo também. Seu pai achou que ele estava crescendo. Seu pai tirou a rodinha do lado esquerdo com satisfação e uma chave que ele não sabia o nome. E ele montou na sua Caloi 10 branca e pedalou. E sim, ele ainda se lembra do primeiro susto. Da primeira balançada mais forte. Da primeira vez que colocou o pé no chão com medo de cair. E ele se lembra de como, a partir disso, só queria fazer curvas para a direita. O medo é uma coisa poderosa em uma criança. E ele preferia andar em círculos buscando a antiga sensação de segurança do que se arriscar a ter de por o pé no chão de novo. Meninos legais não põe o pé no chão.

Atrás de mim tem um rapaz. Ele não tem um dedo.

E então, depois de um tempo que para sua mente de criança foi extremamente pequeno, seu pai sugeriu tirar a rodinha da direita. Era assim que os adultos andavam. E pelos Deuses, como ele queria ser adulto. Ele queria parecer grande. Bem maior do que realmente era. E queria ser corajoso. E queria orgulhar seu pai. E foi assim que um garoto meio gordo e com um péssimo corte de cabelo marchou até o pai com uma coragem que ele não tinha e exigiu que o homem tirasse a ultima rodinha. E foi assim que ele cai pela primeira vez. Numa tarde de sol, no pátio de um museu, na frente de todo mundo. E aquilo doeu. Doeu no joelho. Doeu na mão. Doeu no orgulho. E ele percebi que a Caloi 10 branca não lhe fazia invencível. E ele a culpou. Ele a culpou por algo que ela nunca prometeu. Ele a culpou pelos meus excessos e falhas. Ele a culpou e disse que tudo que estava errado era culpa dela. Se ela fosse de 12 marchas. Se ela fosse azul. Se ela... E ele se esqueceu de que ela também podia lhe culpar. E de que lhe culpando, ela podia estar certa. E de que podia estar mais certa do que ele. Mas isso não é coisa que um menino de vinte e tantos, quero dizer, dez anos, pense. Algo aquele dia se partiu entre ele e a Caloi 10 branca. Eles não eram mais incríveis conquistadores de velocidades absurdas. Eles eram apenas um menino meio gordo e sua bicicleta. E após um curativo o menino meio gordo levantou a bicicleta e tentou de novo. E ele se lembra de seu pai lhe segurando. Torcendo por ele. Mesmo que ele fosse só um menino com uma Caloi 10 branca.

Tem um velho a minha esquerda. E seus joelhos parecem uma colcha de retalhos. Cicatrizes que marcam a pele.

Depois de muito tempo ele aprendi a andar direito de bicicleta. E alguns dos sentimentos que ele teve muito antes voltaram, ainda que não da mesma forma. A intensidade mudara. A compreensão. Ele era mais velho agora. Mais ainda fazia curvas radicais. Ele se lembra do dia em que deu sua Caloi 10 branca para uma criança carente. Meu pai estava lá. Ele lhe dizia que eu já estava grande demais para aquela bicicleta e que outra pessoa poderia aproveita-la melhor. Ele lhe dizia que comprariam outra, o que embora tenha demorado um tempo, foi verdade. Ele lhe dizia muitas coisas que ele não queria ouvir. Era a Caloi 10 branca dele. E ele se lembrou de entender que as vezes a gente tem de deixar ir. Que a gente tem de entender que tudo tem seu tempo. E ele se lembra de outras bicicletas. De outras vezes que foi radical. De outros, ah, de tantos outros tombos. E se lembra de se revoltar. De aprender a andar de patins. De tentar – e falhar miseravelmente – aprender a andar de skate. Paixões temporárias. Cada uma com seus momentos radicais. Cada uma com suas quedas. E se lembra sempre da Caloi 10 branca.



Olhos para as figuras a minha volta. O homem dos dentes quebrados caiu de uma Caloi 10 branca quebrou os dentes no estacionamento de uma firma grande perto da sua casa quando era criança. Ele pensou que os dentes nunca mais iam voltar ao normal. O rapaz perdeu o dedo, ou pelo menos assim lhe pareceu, quando estava aprendendo a fazer curvas e acabou enfiando a sua Caloi 10 branca na parede de pedras de um prédio na praia onde estava com a sua família. Sua avó fez os curativos e os dedos ficaram. O velho com as cicatrizes. Ah, essas vieram de várias quedas. Ele se lembra das que doeram mais. Ele se lembra de umas duas que fizeram ele querer continuar deitado no chão. Mas ele se levantou. E eles estão todos aqui. Nós. Eu. E fazem anos que eu não ando de bicicleta. Mas hoje eu vi uma Calói 10 branca na rua. Não tão bonita quanto as de antigamente. Não tão bonita quanto eu lembro.



Seu pé direito encontra o pedal. O vento bate em meu rosto. Nós somos invencíveis em nossa Caloi 10 branca. Nós somos infinitos. Faz tempo. Deuses, como faz tempo.

3 de out. de 2013

Antes que seja tarde





Antes que seja tarde,
me dá mais um beijo?
me deixa sentir teu hálito quente
me protege do mundo frio

Antes que fique cinza
Não me impeça de pular
Não me peça cuidado
Não me diga que o fogo arde

E antes de apagar a luz
me conta mais uma história
me faz mais um cafuné
me dá motivo pra sonhar.

Antes que acorde
deita do meu lado
rouba a coberta
sorri faceira sobre meu peito

Antes que vire amor
mostra meus defeitos
faz rir deles.
Faz vontade de ficar.

Antes que fique triste
diz que é pra sempre
sempre e pra sempre
e faz acreditar


Antes que fique tarde
Me pergunta outra vez
O quanto te amo.
Respondo: apenas o suficiente...

.
.
.

 ... Pra durar toda a eternidade.

30 de set. de 2013

As vezes...

Dói, eu sei. Dói pra caralho, mas não é essa a intenção?
Ninguém disse que seria fácil. Viver sabe. Nunca foi. E mesmo eu, que me julgava invencível, já quis, por mais de uma vez, desistir.
É, eu já quis jogar a toalha, esquecer essa porra de esperança, esquecer você, esquecer o mundo. Ainda quero, as vezes. E sei que ainda vou querer. Mas seria mais fácil não? Muito mais fácil. Mas ainda assim, te ver “chorando” acaba comigo. Te ver querendo desistir. Porque eu sei que você é melhor que isso. Porque eu sei que você merece mais. Porque em algum lugar no meio dos meus meio-caminhos, eu descobri que não adianta desistir. Não existe desistir. Querendo ou não, a vida te levanta. Ela te leva de volta e você faz de novo as coisas que jurou nunca fazer. Ela te FODE de novo e de novo. E depois mais uma vez. Até que em um determinado momento você não aguenta mais. Em um determinado momento você muda. Um pouco. Você começa a ver as coisas de um modo diferente. Você vê que a gente tenta por ordem em tudo. Que a gente tenta entender tudo. Que a gente é arrogante pra caralho. Que a gente acha que o primeiro posto de gasolina na estrada já é o destino final. E, se você realmente entender, você também descobre que a estrada não tem um final. Ou pelo menos não um que a gente possa ver. E, por mais estranho que pareça, isso te dá uma certeza. Uma certeza estranha. Um tudo que é nada e um nada que é infinito em suas possibilidades. Uma certeza que te faz entender que tudo é transitório e eterno. Que aquilo que você tenta segurar vai eventualmente mudar, sumir, fugir. Que o inesperado está escondido em cada esquina, basta esperar.Que não existe justiça. Lógica. Que o que você sente, se for verdadeiro, vai estar sempre com você, mesmo quando você parar de sentir. Que o que passou é eterno. Vai sempre ter existido. Vai sempre existir em você. E, por fim, que é a esperança, e não o ar ou a comida ou qualquer coisa tão mundana, que te mantem viva, e que mesmo tentando fugir dela, ela esta em você, em sua essência.
A vida partiu meu coração. Eu parti meu coração com ela. E o seu. E você o meu. E dói, eu sei. Dói pra caralho. E não era essa a intenção. Mas é eterno. E o amor também é.

Não desista. Nunca.

13 de set. de 2013

Pizarro

Fui um pássaro.
Fui pedra.
Fui incêndio florestal.
Numa era de gelo.
E em cada dia fui uma coisa diferente.
Fui eu.
Fui incoerente. Tive esperança.
Corri atrás do passado.
Perdi.
Me perdi.
Fui sangue correndo.
Fui ficar em pé nos cacos.
Fui procurar um chão já desmoronado.
Fui o grito.
E a rouquidão que e seguiu.
Fui o texto não escrito.
E agora não sou nem começo nem fim.
E não sou meio.
Fui buscar minha casa.
Fui chorar no escuro.
Fui buscar abrigo.
Fui e voltei de mãos vazias.
Fui flertar com a saída fácil.
Quase não voltei.
Fui me ajoelhar.
Fui pedir aos Deuses.
Fui medroso. Egoísta. Carente.
Fui?
Fui comemorar pequenas vitórias.
Fui procurar meu caminho.
Fui procurar um caminho.
Fui.
E talvez por ter ido
Tudo o que eu quero é voltar.

25 de ago. de 2013

E o diabo que nunca veio...

E eu que jurei que não ia fazer mais isso notei que a minha jura, assim como qualquer decisão que exija muito esforço, caiu por terra. Ainda assim se você me assombrasse, se a gente pudesse voltar, se eu não fosse tão estupido, egoísta e imaturo, eu juraria o mundo. Eu cumpriria o mundo.
E eu que me esforcei tanto, eu que me torturei pelos meus pecados, eu que achei que um dia tudo isso ficaria para tras.. Hoje eu estou aos pedaços. De novo. E nem foi preciso muita coisa, só uma semelhança, só uma musica, só uma foto... só a lembrança do meu fantasma.
E em cada estilhaço um reflexo, e em cada reflexo um erro.
E eu que pensava que tinha mudado. Cada erro refeito, dessa vez com uma carga extra de culpa. Agora eu sei. Eu sei onde erro. Mas por que não errar? Os últimos erros já me tiraram tudo que me importava. E mudar não fez as coisas voltarem ao que eram, então, pra que? Pra que mudar? Pra que fazer o certo?
E se eu tivesse ficado em casa hoje. Ontem. Sempre. Se eu não tivesse atravessado aquela porta. Se eu nunca tivesse visto. Se eu não soubesse...
E eu que para consertar, ou esquecer, venderia minha alma, fiquei a noite inteira esperando o diabo que nunca veio. Mas amanha isso vai passar. Sempre passa.
E eu que tentei fugir do passado vou conseguir escapar dele, como todo dia, até o próximo fantasma.