15 de mai. de 2009

Dori me, Ameno, Dori me ... ou... Do Exagero

Me levem daqui, me levem de mim, eu não sou uma boa companhia pra mim mesmo.


Finjo ser mais leve que o ar, e disfarço a realidade com a matéria dos sonhos. Sombra e pó. Pulo sem ter nada a frente a não ser o céu azul. Não vejo as coisas que se escondem entre o ele e a terra, mas sei que estão lá, e como um estudante procura as respostas eu procuro esse lugar idílico fora de mim, tendo a certeza de que ele existe única e exclusivamente porque quero que exista. Jogo tudo pro alto comigo e no instante em que meus pés se descolam do chão o medo do salto se vai.

Aproveito a queda enquanto ela assim o é. Vôo desafiando as leis da natureza, e com as mesmas asas que Dedalos fez para si e para seu filho, provoco os Deuses e busco meus desejos entre as nuvens e o sol. Agarro-me na crina do cavalo selvagem e deixo que ele me guie pelas trilhas tortuosas da vida ao seu bel prazer, exigindo apenas que seja rápido. Não anseio pelo fim do caminho, nem pelo fim do vôo, mas a lentidão da conformidade me incomoda. Grito, corro, vôo. Dispo-me de minhas defesas para que mais leve, mais e mais perto do sol eu chegue.

Caio, assim como Icaro caiu, com as asas derretidas pelo calor invejoso de Apolo. Caio, e sem minha proteção me choco e estilhaço no contato com o frio chão da realidade. O hálito do possível ainda brinca com meus sentidos enquanto os carniçais arrancam o resto de minhas asas e devoram minha carne com os dentes de mundo cinza e sistêmico.

Me amarram, tentar me dobrar. Tentam fazer com que eu esqueça meus delírios, tentam fazer com que eu seja normal... Feito um anjo afastado da graça sofro, mas não esqueço. Nunca esquecerei, nem desistirei.

Eu vivo o exagero, escolho-o de novo e mais uma vez. Fujo dos carniçais e lentamente começo a me recuperar. O tempo não vai me esperar, e como não sei o quanto ainda tenho, começo a tecer minhas novas asas, ciente de tudo isso pode acontecer de novo. Uma ponta de medo aparece no horizonte dos meus pensamentos. Não, não é fácil ser assim exagerado. Não é fácil cair e ainda no chão se preparar para cair de novo. As dentadas dos carniçais deixam marcas. A realidade deixa marcas, no corpo e na alma. Vejo com o tempo meu corpo ficar pesado, perder velocidade e o brilho lentamente foge dos meus olhos.

O hálito do possivel, (ou seria do impossível?) teima em fugir de mim, como a idade teima em alcançar Peter Pan, mas teimoso como ele continuo buscando esse hálito, cada vez mais distante. Sei que um dia não vou conseguir mais fugir dos carniçais. Sei que um dia a dor da queda vai ver grande demais, que a realidade vai rasgar minha pele, abrir minhas veias, destruir tudo por dentro e me despedaçar em mil pedaços alienados e inconscientes.

Mas o exagerado é como um cometa que risca o céu na noite escura e brilha mais forte que todas as estrelas. De longe é lindo, de perto é um corpo que queima no frio do espaço, de longe desaparece no céu, de perto quebra, se estilhaça...esse é o destino do exagerado, uma vida intensa, ainda que breve...

Mas e ai, quem quer pular comigo?


Musikitas:
“é a própria fé o que destrói, esses são dias desleais”
“sou eu caindo num precipício, você passando de avião... você olho e fez que não me viu, foi como se eu não estivesse ali... vai ver que a confusão fui eu quem fiz fui eu....”
“havia inocência em seu sorriso, enquanto caminhava rente ao precipício... estava calmo por acreditar em perfeição... tão certo, como flores no deserto... real como as miragens da paixão”
“Eu queria ver o escuro do mundo, onde está tudo o que você quer”
“o preço que se paga as vezes é algo demais”
“eu fui sincero como não se pode ser...”
“pra que te espero de braços abertos se você caminha pra nunca chegar?... você diz que é pouco e pouco pra mim não é bobagem... então me lanço, me atiro em frente ao seu carro e ai você decide se é guerra ou perdão, se na vida eu apanho outras vezes eu bato, mas trago minha blusa aberta e uma rosa em botão... eu só quero lembrar de vc até perder a memória”
Tá... isso tá ficando maior que o texto, melhor parar por aqui.^^

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