18 de jul. de 2008

Baile de Mascaras

Deus? Não. Hoje não é domingo, não é dia de colocar a minha mascara de fiel, a minha mascara de crença. Não, hoje a verdade foi muito fundo, hoje ela feriu meu mundo de ilusões. Hoje ela entranhou seu veneno nas fibras da minha imaginação e me fez duvidar. Duvidar! Como ela ousa?
Qual mascara usar então? Qual das falsas emoções que me fizeram crer existir seria mais própria para aplacar essa dor? Qual vendaria novamente os meus olhos e me reintroduziria aos braços de Morfeu? Ou ainda melhor, me conduziria ao seio da vida, onde essas patéticas mascaras e ilusões de realidade não existem?
Desculpem-me ó mascaras. Sei que sois tudo o que tenho. Tudo o que qualquer um pode ter. Mas ter de carregá-las diariamente faz com que seus pesos, quando notados, se tornem praticamente insuportáveis. Ajudem-me então eqüinas de Tróia, apresentem-se perante mim e sinalizem qual de vocês devo usar. Qual dentre vocês ira sugar minha essência hoje? Qual impedira que pela primeira vez eu veja o meu rosto no espelho? Qual será meu rosto, qual será meu espelho?
Que cor de inveja iria cair bem com está roupa? Ou seria mais discreto uma triste de arrependimento? A da desilusão sujou-se em minhas lagrimas e esta sendo limpa.
Escondam-me mascaras amigas, fujam comigo para longe. Disfarcem com seus sorrisos os pecados de meu rosto. Encantem a multidão, que também mascarada acha feia a minha falta de prumo. Cubram com suas fitas de papel colorido aquilo que ninguém ainda conhece. E sobre tudo, queridas, não deixem a verdade entrar.
A campainha toca. Esperam-me lá fora, o tempo se dissipa. Respondam-me, ou nenhuma de vocês irá se pronunciar? Emoções mascaradas, mascaras apáticas. Rasgo meu rosto e ainda permanecem. Erro e acerto e ainda se mantêm. Doce era a sabedoria quando vocês não existiam. Condenam-me agora que reveladas a busca de uma originalidade que começo a duvidar existir. Fora eu lhes digo e com aperto no coração agarro-me profundamente a cada uma enquanto se despedaçam no oceano do meu próprio sangue.
Não deixem que me afogue. Não neste suor vital que corre em minhas veias. Protejam minha boca, não deixem que eu seja verdadeiro nem por um instante. Não me deixem atravessar a parede da fantasia. Não poderia ser real, me matariam. Protejam meus olhos, não deixem que vejam o lento desaparecimento do brilho de meus sonhos no fundo destes olhos que vêem apenas através de vocês. Protejam-me os ouvidos. Não deixe que cheguem a eles os gritos roucos de minha alma.
Novamente a campainha. O mundo urge por mim. Este espaço, este armário de ilusões, esse pseudo conhecimento, essa pseudo revelação. Não, eles estão certos, eu não deveria estar aqui. Eu não deveria querer, eu não deveria saber.
As perguntas se multiplicam a medida que as respostas se esvaem, e vocês minhas mascaras permanecem plácidas, vazias, esperando confiantes sua vez pois sabem, melhor do que eu, que não viveria sem vocês. Vocês no entanto, será que viveriam sem mim? Imagino que sim. Pessoais, sim, eu mesmo as pintei, mas percebo agora que usei a mesma tinta que os outros, que fiz o mesmo desenho. Lógico que viveriam sem mim. Quem usa quem, eu perguntaria, se não tivesse medo de ouvir uma resposta que já sei.
Colocarei enfim uma de vocês. E mais uma vez, de olhos fechados, escolho a vencedora de meu embate e portadora de minha derrota. Só abrirei os olhos quando necessário, e ai, no meio de suas amigas, sei que se revelará para mim. Sei também que procurarei tira-la. Sei que observarei através de seus olhos suas amigas esconderem as pessoas de quem acho que gosto. Sei que pensarei ver através delas também e sei que estarei errado.
Cegar-me-ia se me permitissem, mas conheço-as a tempo suficiente para saber que não me deixariam fazer isso. Perguntaria, se me respondessem, choraria se derretessem. Procuraria se não fosse em vão. Sei disso tudo como se pudesse realmente saber, e ainda assim desafio-as, tento cegar-me como se a falta de visão me impedisse de ver algo que está mais claro para mim que os meus próprios sentidos, pergunto-lhes qual usar como se fosse minha a decisão final, como se fosse eu que as usasse, e por fim vago a procura de sua ausência, acreditando por vezes encontrá-la e frustrando-me logo após, ao perceber que para mim também representam seu teatro quando em rostos alheios.
Sei que se aproveitam. Sei que ninguém percebe, nem ira me entender. Acho que eu mesmo não irei me entender logo, e vergonhosamente fico feliz com a perspectiva. Gostaria de usá-la amor, mas a sabedoria corroeu meu rosto com sua acidez permitindo a mim apenas o uso da tristeza, mas não se preocupe, as outras mascaras farão com que suas pessoas me pintem de alegria por fora e ignorem, assim como eu, a cor negra do desespero por dentro.